POLÊMICA: Boi Garantido à beira da falência com dívidas de R$ 60 milhões; veja a situação



O Boi-Bumbá Garantido corre risco de ir à falência. Em live de mais de duas horas na noite desta sexta-feira (29), a atual diretoria do Boi da Baixa de São José em Parintins, liderada pelo atual presidente Antônio Andrade, mostrou a situação financeira do bumbá.

A associação acumula uma dívida de R$ 60,023 milhões. Esse valor pode aumentar se for atualizado com multas, juros e correção monetária. A conta final é de aproximadamente R$ 100 milhões.

Diante do caos financeiro, o presidente do Garantido anunciou a implementação de medidas de austeridade. Uma delas é a fixação de um limite de teto de gastos em contratos de prestação de serviços e por um período menor.

É a primeira vez na história dos bumbás de Parintins que uma diretoria expõe publicamente as contas. As dívidas sequer são apresentadas nas assembleias gerais. Em muitos casos, são promessas vagas de candidatos em campanha. Após eleitos e empossados, a real situação financeira é empurrada para debaixo do tapete, para serem engordadas por novas dívidas.

O caos financeiro do Boi-Bumbá Garantido apresentado pela nova diretora financeira Ana Miranda se resumiu a um levantamento geral, sem detalhes. Não foram divulgados os nomes dos credores e quanto a agremiação deve a cada um. Também faltou expor as dívidas trabalhistas; de impostos e receitas de patrocínio.

Avisos ignorados

A deterioração financeira do Garantido não é item novo no bumbá. Há oito anos a empresa F12 Contabilidades, de Fernando da Rocha Fernandes, já havia alertado a diretoria para a necessidade de sanear as finanças do bumbá. Ela foi contratada em setembro de 2014 para fazer uma auditoria externa do período de setembro de 2011 a agosto de 2014, na gestão o ex-presidente e atual vereador Telo Pinto.

A empresa ampliou o período a partir de 1995 em um trabalho de sete meses de levantamento, quando identificou uma dívida de R$ 4 milhões resultado do processo indenizatório movido pela ex-cunhã poranga Jaqueline Marques. 

O processo perdurou por mais de duas décadas, após sofrer acidente na arena do bumbódromo.

De acordo com o relatório da F12, dos R$ 4 milhões em 1995, as dívidas só cresceram. A gestão do ex-presidente José Walmir de Lima (2003 a 2005), deixou uma dívida de R$ 4,877 milhões; a do ex-presidente por dois mandatos, Vicente Matos (2007-2007/2008-2009), R$ 4,090 milhões; Telo Pinto (2009 – 2011/2011 – 2014) triplicou para R$ 12 milhões. De 1995 a 2014, a dívida foi de R$ 36,082 milhões.

Ainda na gestão de Telo Pinto foi criado o Instituto Boi-Bumbá Garantido com um novo CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) em substituição a Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, impedida de receber recursos pelo seu CNPJ.

A dívida evoluiu na administração de Adelson Albuquerque de 2014 a 2017 alcançando R$ 37,749 milhões. Seu vice-presidente e sucessor na presidência, o advogado Fábio Cardoso, um dos que encabeçam a oposição a Antônio Andrade, deixou pendente no valor inicial de R$ 37,599 milhões.

No levantamento apresentado consta na Justiça do Trabalho 231 processos contra o Boi Garantido, totalizando R$ 6,055 milhões. Esse valor deve aumentar. Em Manaus tramitam nas varas cíveis 23 processos que somam R$ 4,215 milhões. Já em Parintins, o Garantido acumula mais processos, 37, cujo valor total é de R$ 24.298.316,31.

Perda de patrocínio

O presidente Antônio Andrade admitiu que o bumbá corre risco de perder patrocínio. Além de recuperar a Cidade do Garantido arrematada pelo Grupo Samel na gestão de Fábio Cardoso e devolvida neste ano em forma de patrocínio de pouco mais de R$ 1,5 milhão, outro fantasma assombra o Garantido: a penhora da Universidade do Folclore Paulinho Faria. Existem 13 pedidos de penhora no valor total de R$ 4,910 milhões. Desses, 12 são processos trabalhistas e um é cível.

Além das dívidas, Antônio Andrade citou desvios de recurso no bumbá. Ele citou compra e pagamentos por materiais que nunca chegaram em Parintins.
Transparência

Antônio Andrade admitiu a dificuldade em sanear financeiramente o boi. “O boi de 2023 ele tem que ser extremamente um boi racionalizado. A gente vai apresentar uma proposta que é de enxugamento total mesmo, até para os patrocinadores, para as pessoas que apoiam o boi acreditarem que a gente quer realmente vencer a crise”, declarou.

“Pode chegar um momento que a gente não tenha onde fazer o boi, não tenha onde fazer os ensaios porque vai chegar um momento que as penhoras vão acontecer de verdade e a gente não vai ter mais esses bens de volta”, advertiu.

Como parte do processo do enfrentamento da crise financeira, a diretora financeira Ana Miranda anunciou a elaboração de uma tabela de valores, estabelecer o teto máximo de pagamentos em contratos de mão-de-obra na ordem de R$ 50 mil e um contrato de duração mais curto, ao invés de contratos anuais. “Não vamos mais fazer contrato anual. Nossos contratos serão menores, por prazos menores. Teremos fiscal de contrato que vai verificar se a pessoa contratada está cumprindo o contrato”, afirmou Ana Miranda.






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