CORONAVÍRUS: Hidroxicloroquina começa a ser contrabandeada no Brasil



A legislação brasileira define que medicamento é todo produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico; sendo um conjunto de substâncias elaboradas que auxiliam na cura de doenças ou ferimentos. E para que esse produto possa ser comercializado no Brasil, primeiro é necessário passar por uma série de avaliações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Como esse processo pode levar algum tempo ou o valor do medicamento pode não ser muito atrativo, esses fatores podem gerar dois problemas: o contrabando e a falsificação.

Um exemplo desta situação, foi a apreensão realizada pela Polícia Rodoviária Federal no estado de Goiás, no mês de maio. Os agentes encontraram mais de três mil comprimidos de hidroxicloroquina contrabandeados do Paraguai para o Brasil. A carga estava escondida em uma caminhonete abordada próximo à Uruaçu, no norte do estado. “Esse é um trabalho permanente em que as abordagens têm atenção especial no narcotráfico e contrabando de produtos ilegais”, explica o inspetor Newton Morais Souza, que é chefe do Setor de Comunicação Social da PRF em Goiás.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a carga ilícita foi descoberta por acaso, durante uma abordagem de rotina em que os policiais pararam a caminhonete. “Pelo estado de Goiás estar no coração do Brasil, com diversas rodovias que cortam o estado e levam para todas as partes do país. Então, é comum realizarmos esse trabalho de fiscalização”, relata o inspetor da PRF. Mas essa apreensão demonstra que o combate ao tráfico não é o único problema a ser enfrentado.

Existe ainda a questão da saúde pública, uma vez que o contrabando pode colocar em circulação remédios falsificados.

O médico infectologista José David, diretor Científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, aponta o problema no consumo de medicamentos falsificados no Brasil. “Ou estão adulterados com componentes que, na maioria das vezes, são tóxicos ou simplesmente não têm o princípio ativo na sua formulação”.

Como consequência, segundo o médico, a pessoa pode ter o “avanço da doença uma vez que, na verdade, ela não está usando medicação alguma”, destaca. “O pior desse processo é que muitas vezes a pessoa está tomando uma medicação para um problema que ela acha que tem. Isso pode levar a consequências leves ou até casos mais graves e mesmo a morte do paciente”, diz o infectologista.

Além disso, a hidroxicloroquina e a cloroquina foram enquadrados pela Anvisa como medicamentos de controle especial, para evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado. E nisso, chegamos a uma prática comum no Brasil da automedicação, ou seja, consumir medicamentos sem a devida orientação de um profissional de saúde. Muitas vezes uma doença pode ter sintomas parecidos a de outra enfermidade e, por isso, tomar remédios sem a correta orientação pode agravar o estado de saúde ou esconder sinais importantes para combater a real doença. 

Contrabando e falsificações em tempos de Covid-19.

No atual momento em que o mundo enfrenta o novo coronavírus, cada possibilidade de cura ou tratamento são vistos com grande esperança para o fim da pandemia. Apesar disso, é preciso atenção para evitar que outros problemas comecem a surgir como, por exemplo, o frenesi decorrente da hidroxicloroquina como tratamento à Covid-19. Mesmo sem ainda possuir uma eficácia comprovada para combater a doença, o Governo Federal liberou a prescrição médica e o uso. Com isso, a compra desse medicamento aumentou 67% de janeiro a março deste ano, em comparação ao mesmo período de 2019, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia. 

Apesar da apreensão realizada pela Polícia Rodoviária Federal, essa é a primeira ocorrência relacionada a esse tipo de medicamento. “Não é incomum ter apreensão de outros tipos de produtos sem regulamentação no Brasil, a maior parte vem dos países vizinhos, que fazem fronteira com a gente”, explica o inspetor Newton Morais Souza. “É mais comum encontrarmos contrabando como cigarros, drogas e, principalmente, produtos oriundos do Paraguai. Em relação a medicamentos, as maiores ocorrências que nós temos são de produtos veterinários e de anabolizantes de academia”, afirmou o chefe do Setor de Comunicação Social da PRF em Goiás. 




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